Clemencia… clemencia... - Elaene Suzete de Oliveira Pereira


Clemencia… clemencia...

 

 

Na rua tinha uma gargalhada cristalina que ecoava

No branco-anil do lençol esticado no varal.

Sempre dia azul-celeste pendurado por um fio de crendice

Pernas velozes no esconde-esconde suado, matreiro dos pés descalços.

O mistério da janela amarela que nunca se abria… afinal quem morava ali?

O menino que rebolava, mas que vivia trancado em casa.

No hospital de loucos com alas separadas: os mais perigosos.

E aqueles que podiam sair para um pequeno passeio, no jardim do hospital...

Nunca vi loucura neles… eram crianças alegres e cantantes

No vai e vem do balanço não havia horário de visitas...

Charretes eram puxadas por burros rangendo suas rodas musculosas de madeira.

Volta e meia pegávamos caronas… sem ter um lugar para chegar.

Sempre descíamos no meio do caminho.

Sempre desço no meio do caminho atrás da gargalhada cristalina.

Desde então o asfalto tomou conta das pedras irregulares nos campos de piquenique.

Voam meus temores por becos que nunca pensei existir,

E desvanecem num campo florido de papel de parede; é o que restou.

No coração criaram farpas com som de harpas iludindo os olhos e ouvidos.

Quanta hipocrisia nasceu… até então o cobertor da inocência protegia.

Chegou o desejo tempestuoso revirando todo o meu ser.

Desejável não pela beleza, mas pela criança na mulher...

Momento que sentia amada por tudo e todos com seus olhos carinhosos. Sorrisos irônicos… a primeira bebida… o primeiro beijo… primeira transa...

Experimentos abundantes sem qualquer compreensão...

Arranha-céus de emoções nas ruas de gargalhadas estridentes

Os meninos que rebolam saem de suas casas... as janelas amarelas ficam escancaradas na madrugada e que suas donas ficam nas calçadas...

O mundo engolido pelas pernas abertas do sexo nas bancas de jornais e televisão...

O som da bateria heavy metal sufocando as harpas dos anjos degolados pelo craque

Acostuma-se com a guilhotina diária

Santos cobiçados pelo seu valor material...

Aos governantes corruptos, aos santos padres pedófilos

Aos pais viciados, aos filhos amaldiçoados

Crianças trêmulas sem o cobertor da inocência... clemência… clemência.

 

Autora: Elaene Suzete de Oliveira Pereira




 

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