Bilhete
Batidas cadenciadas anunciam o adiantado da hora.
A mão tremula, e os dedos rigidamente curvados,
deslizam os últimos azedumes no branco do papel.
Singular entrecho que combina vida, tinta e morte.
E, da boca fumegante do revólver escara a bala,
o estampido ecoa ao infinito, levando a pobre alma.
E o corpo se curva em um derradeiro movimento.
O sangue escorre da mesa, pingando compassado,
acompanha o rangido do antigo relógio de parede.
Os olhos vazios, um buraco na cabeça, o sangue,
há o sangue... acorrer contumaz sobre o mármore.
No bilhete, poucas palavras fazem a despedida.
Algumas linhas desamparadas de boa pontuação.
Feita a fria síntese semibreve de um existir solitário,
destes que se esquecerá antes mesmo do sétimo dia.
Afinal, nunca houve entrecho de romance na vida,
entre os tantos dias que o tempo lhe foi surrupiando.
E com tantas vidas que poderiam ser desperdiçadas,
entre tantas outras que poderia ter escolhido viver,
foi mesmo uma de razoável solidão a mais acertada.
Pois, morrer não pode ser diferente do que foi viver,
para uma alma abarcada de imorredouras ausências.
Assim finda o desditosa vida, amofinada pela solidão.
Mas, no tempo de morte do esquálido corpo pouca
carne sobrou para os vermes degustarem.
Esse poema está inscrito no Concurso RANKING POÉTICO Coletânea de poemas: www.bistrodomatuto.com/2021/10/concursoranking.html
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