Castiçal
Muitas lembranças do passado ficaram à mesa, ao redor de um castiçal de prata. Velas acesas com seu fogo convulsivo iluminavam os olhos do meu pai, e neles brilhava um ar patriarcal, cuja tez austera indicava a sagrada hora do jantar e nos reunia ao redor da mesa, testemunha de sua sisudez que nos punha a todos calados. Meus irmãos mais velhos esboçavam um terço de um sorriso debochado, mas, devido ao respeito, espereramos sempre as mesmas perguntas de provocar frio na espinha. Junto à sobre-mesa, vinha a ordem de podermos falar assunto de gente grande, coisa de homem e isso agradava o senhor da cabeceira e o deixava com um sorriso enigmático. Sua taça de bom vinho na mão decorava o ambiente enquanto seus olhos passavam por cada um, traço por traço. Acendia seu charuto de bom fumo e participava da conversa de cada um. Não perdia o assunto. Até que veio a luz elétrica e essa apagou o castiçal. Adultos de verdade, nos casamos. Em meu pai se fez o peso da idade, e o tempo o levou. Minha mãe continuou um pouco mais, sem a doce tarefa de acender o castiçal que iluminava um tempo austero, mas que jamais sairá de nós.
Autor: Renatto Bretas
Esse poema está inscrito no Concurso RANKING POÉTICO Coletânea de poemas: www.bistrodomatuto.com/2021/10/concursoranking.html
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Parabéns, a gente viaja no tempo lendo essa poesia!
ResponderExcluirAdorei!